Antes de começar a entrevista, propriamente, Paola Oliveira conta sobre seus gatos. Um deles, um malhado chamado Pessoa, foi encontrado na rua, durante uma gravação. A atriz olhou para o bichano e teve dó de vê-lo estropiado. Foi para casa e não conseguiu parar de pensar nele. Voltou ao local, pegou o animal e o levou embora. A Pessoa, se juntaram novos gatos, que a moça sai pegando por aí. E cuidando, claro. Transformando-os em xodós da família. O fato serve para mostrar o altruísmo de Paola, que jura não medir esforços para resolver o problema dos outros.
Em “Insensato coração”, era ela quem tinha um problema a ser resolvido. Marina, sua primeira protagonista em horário nobre, foi largamente criticada, por vezes massacrada e desacreditada. Nada a ver com a atriz que a interpreta. Afinal, desde que surgiu em “Belíssima” (2005), a carreira da paulistana esteve em ascensão. Mas Marina...
Quando foi confirmada como a substituta de Ana Paula Arósio, que deixou a trama a poucos dias do início dos trabalhos, Paola sabia apenas que a personagem era uma rica designer, determinada a trilhar seu caminho, fazendo de uma paixão fulminante e proibida um amor genuíno e possível. O percurso, porém, foi tortuoso.
Uma semana depois de gravar suas primeiras cenas em Florianópolis, Paola descobriu um cisto no ovário, que a obrigou a parar, a domar uma hemorragia interna e a ser operada. Ninguém soube de nada. Dali a duas semanas, ela já estava de volta aos estúdios. Os conflitos de Marina foram bem maiores do que a atriz poderia supor. Os altos e baixos com Pedro (Eriberto Leão), uma pose de princesa que parece quase uma maldição para a atriz, o olhar enviesado do público... Disposta a matar seu leão diário, Paola foi à caça. Dava autógrafos no aeroporto, mas em contrapartida sabatinava os fãs. No supermercado, fazia enquetes com as donas de casa. Queria saber, de uma vez por todas, onde Marina não se encaixava.
— Busquei essa mulher real, a empatia do público, quis saber o que queriam ver. A gente tem um texto para seguir, tem um caminho, mas também tem as opções. Foi o que coube a mim escolher. Estudei dia e noite. Foi a fase em que fiquei mais concentrada, reclusa. Fiz um trabalho consistente. Até pode não ter sido de grande brilho, mas foi feito com a maior maturidade e dignidade que poderia ter sido feito — desabafa Paola, que, mesmo antes de ver a palavra “Fim” escrita nos créditos do último capítulo da novela, no dia 19, já respira, aliviada: — Foi muito difícil esse desafio. Vinha para cá hoje e pensei: “Nossa, como minha vida mudou, como as coisas mudaram, como sou feliz, hoje, concluindo um trabalho que começou de forma meio atribulada, com uma trajetória que não era a que eu esperava”. Tive que buscar essa mocinha a todo tempo. Dizia para mim mesma: “O quê? Vou desistir dessa mulher agora que tive tanto trabalho para conseguir e construir?” Ah, não! Não desisti dessa mocinha! A minha sensação é de dever cumprido, a mocinha passou com louvor. Não sei se é a sensação de todos, mas é a minha.
Reta final
“Estou um pouco com esse sentimento de despedida, sabe? Se a cena do casamento não fosse antes do fim, provavelmente estaria curtindo uma fossa, eu acho. A estrutura dessa novela foi muito diferente. Principalmente, a trajetória do mocinho e da mocinha. Até o casamento foi antes do final feliz (risos)”.
M de Marina
“Ela é uma mulher real, tão real quanto a dificuldade de ser executada. Naquele momento em que fui convidada, ela era uma personagem, uma mulher distante, alguém que estava prestes a ser descoberta, com conflitos amorosos. Marina é muito mais próxima do público que vê a novela do que imaginava. Não é uma princesa, como também não sou. Eu vim da Penha (bairro de classe média baixa de São Paulo)!”.
De volta ao passado
“Comecei numa novela das oito, e revivi aquilo lá atrás. Mas agora sei o peso que é ser protagonista do horário nobre, a exposição, a cobrança. Como Giovana, estava muito protegida pela Claudia Raia, pela Irene Ravache, pelo Lima Duarte... A responsabilidade estava com eles. Eu tinha liberdade de brincar mais, de jogar em cena. Agora, não que não tivesse liberdade, mas estava sendo vigiada o tempo inteiro.E quando vi, pensei: ‘Acho que temos uma pedreira por aí’. E não recuei”.
Críticas duras
“Procuro não ver as críticas, mas claro que preciso saber o que estão falando. Em determinado momento, elas se deram em relação ao casal e a como ele se estabeleceu, mais do que só à atriz. Mas não dá para pensar ‘Que se danem eles!’. Recebemos um texto e precisamos fazer aquilo acontecer. E fiz tudo o que pude, dei o melhor de mim. Então, por isso as críticas não me esmoreceram”.
Momentos marcantes
“Ela ter casado com o Léo (Gabriel Braga Nunes), a briga com a Úrsula (Lavínia Vlasak), a decisão lá atrás em relação ao Pedro, mesmo sendo amiga da Luciana (Fernanda Machado). Várias vezes teve uma ira dela em relação ao Pedro, que foram momentos marcantes, e agora a fase de celebração desse amor. Concluí um trabalho que começou de uma forma inesperada, em que foi preciso encontrar o tom exato para essa mulher. Eu vi torcerem por ela, e sinto a dificuldade que é torcer pelos heróis, pelas pessoas boas. E isso é muito louco!”.
Dennis grita, sim!
“A coisa mais impressionante na novela chama-se Dennis Carvalho. Ouvia falar que ele chegava gritando, que era meio bravo. E comecei a ficar gelada, com medo de ele gritar comigo. Minha primeira vez no estúdio com ele, eu pensava: ‘Ai, ele vai entrar, ele vai entrar, como vai ser?’ (risos). E eu estava com tanto problema em Florianópolis... Tinha vários capítulos para ler, o Dennis para entender, um lugar para me encaixar. Gravei uma semana, voltei e fiz uma cirurgia de ovário, tive um cisto seriíssimo, hemorragia interna, ninguém soube. Voltei após 15 dias, gravei feito uma jaca, não tinha como administrar tudo. Fui como um trator para cima e segui em frente. Dennis grita, fala alto e xinga, mas percebi que, quanto mais ele grita, mais ele gosta e se importa com você”.
‘Livrai-me do mal’
“Não deixei de acender vela para o meu anjo da guarda, não deixei de tomar um banho de sal grosso, de arruda, de tudo o que você possa imaginar. Tive situações na minha vida pessoal pelas quais não gostaria de passar de novo. Situações chatas mesmo. E sempre encaro da mesma forma. Saio de cena e me calo. Essa é uma tática e acredito em energia, sabe? Faço tudo o que tem a ver com isso. Se acho, por exemplo, que ir a uma rave vai me deixar suscetível a energias ruins, não vou. Acendo minha vela, agradeço pelo que tenho, peço proteção e, principalmente, que as boas energias estejam comigo. Tive momentos de achar que, de repente, não iria conseguir, me sentia impotente. Era como se eu gritasse sem voz”.
Cenas quentes e namorado
“Assisto todo dia ao Joaquim (Lopes, o Josué de ‘Morde & assopra’). A galera na rua diz que ele está me enganando, que está de caso com um rapaz! Ele tem um humor incrível, uma inteligência cênica. Mas, se precisar, critico. Ele também faz comigo (risos). Mas quanto às cenas mais ousadas... Sabe que não gosto que o Joaquim veja? Ele também é ator, entende. Mas se ele assistir e gostar, ficar feliz com as cenas desse tipo, é porque ficaram uma droga, porque são feitas para parecerem reais!”.
Casamento, férias e filhos
“Pela primeira vez, sinto que posso tirar férias. É como se, de fato, tivesse fincado os dois pés na profissão. Quero um tempo para estudar, me reciclar, viajar com Joaquim... Não penso em me casar, naquele ritual tradicional. Nunca me vi de noiva, apesar de ter casado várias vezes na ficção, mas filhos eu quero. É a continuidade, a celebração de um amor. Gosto de pensar nisso. E já estou com quase 30 anos! Ai, como tudo mudou. Comecei a Marina com 28 anos, já fiz 29 e agora?!”
Fonte: Extra
Nenhum comentário:
Postar um comentário